terça-feira, 7 de agosto de 2012

SONS DO PASSADO

Alinor Rodrigues

 

        Com o controle na mão postei-me sobre o sofá em frente a TV e fui passando aleatoriamente pelos canais quando deparei com uma apresentadora entrevistando a consagrada atriz Bibi Ferreira. Foi o que mais interessante encontrei entre todos os canais de TV visitados naquele momento.

        Perguntas bem colocadas vindas da entrevistadora á artista, eram respondidas com requintada inteligência.

        Bibi, com seus noventa anos de idade é e sempre será a Diva brasileira como atriz, cantora, pianista, dedicando toda sua vida com incrível talento, finésse e generosidade ao mundo das artes cênicas, e ainda com a credencial de ser filha do ícone da dramaturgia e do cinema brasileiro, o inesquecível Procópio Ferreira.

        O assunto como não podia deixar de ser versava sobre suas experiências e apresentações pelos palcos do mundo.

A certa altura da entrevista a conversa foi tornando-se informal, muitos risos e considerações; Num entremeio a apresentadora falando sobre a vida da entrevistada fez uma pergunta com respeito a vida da atriz: - Qual o acontecimento, ou alguma coisa trazida do passado que te alegra ou entristece? A resposta foi seca: - Passado? Eu não tenho passado! Eu tenho o presente!..

        Diante da importância de quem proferiu tal afirmativa, confesso que me senti meio fora de contesto, e com uma indagação em mente: será que ouvi bem; será que ainda estou com o raciocínio perfeito? Estarei sem saber num mundo que não é mais meu?.. Concordo quanto a expressão: Tenho o presente; porque em sã consciência coloco que o futuro não existe, e o presente é perene como Deus...

        Quanto a minha pessoa, por uma questão de auto-respeito, considero ter um passado; dele vem o conteúdo de minha alma, e tudo o que sou...

        Nascido nos confins do mundo, onde não havia estrada, nem energia, ferramentas, livros, escola, meios de comunicação, tecnologia como hoje existe, onde a natureza era a máquina do homem; fui o guri que lentamente passou a entender o Sol, a Lua, correndo e caçando pelas barrancas do Rio São João que de uma margem á outra são apenas 50 metros, pulando sobre as pedras na corredeira ou nadando no trecho de águas mansas; respirando natureza e jovialidade inocente.

        Mas o tempo amigo, implacável e generoso, enriquece a memória legando experiências que jamais são esquecidas, ajudando no rumo pelos caminhos da vida...

        Por aí que o guri conheceu as contendas humanas, a fé em Deus, a nefasta incredulidade d´outros, a verdade e a falsidade, o amor e o ódio...

        O conhecido no passado ensinou-o a optar pelo lado bom; o da Luz com muito amor e Deus no meio. Falar das benesses dessa opção seria redundância, todo pensante sabe. Lembrar do passado, das comédias e tragédias é tornar o presente mais sábio.

        Sem graça é quem não tem do que chorar de saudade.

        Acompanham-me as lembranças dos amores, dos triunfos e fracassos que soam em meus ouvidos como uma sonata ao longe... Essa é  fortuna cá em meu presente, que enriquece meu sentir por toda gente... O som da passarada por campinas  florestas e vales, sol escaldante e suaves luares trazendo na alma Deus, e o canto das águas...

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